Verdade absoluta n.º 1: Todo homem é movido à massagem no ego.
A senhora pode fazer o teste. Quando quiser que seu esposo lave a louça, não brigue com ele chamando-o de vagabundo imprestável. Diga a ele: “Ai, amor! Queria saber lavar a louça como você! Você faz tudo rapidinho e as panelas brilham como novas! Por mais que eu tente eu não consigo fazer melhor que você!”
Parabéns! A senhora acaba de ganhar um “marido-lava-louças” para a vida inteira!
Verdade absoluta n.º 2: 99,9% do ego masculino está concentrado no pênis.
E isso não é culpa exclusiva nossa. Desde nossa criação somos acostumados com uma platéia feminina formada por mãe, tias, avós, primas que se revezam na bolinação de nosso pequeno membro. O guri fica só curtinho o lance com a certeza de que ele tem entre as pernas algo tremendamente valioso e digno de adoração e devoção. Não se trata apenas de um órgão genital, mas de um monolito, um toten, um obelisco... Símbolo eterno de virilidade, orgulho, poder e prosperidade.
Enquanto as meninas cruzam as pernas, os meninos tendem a andar escancarados exibindo o volume de suas partes íntimas, quando não expondo descaradamente. O homem chega ao ridículo de contar feitos extraordinários de seu poderoso falo. Certa vez, um amigo desabafou comigo sua decisão de largar o tabagismo: “Preciso parar de fumar! O cigarro está acabando com meu desempenho na cama! Antes eu dava 5 ou 6 sem suar a camisa. Hoje, na terceira já estou cansado.”
Diante desta declaração no mínimo exagerada, precisei rebater com ironia: “Meu caso é mais complicado que o seu. Também, preciso parar de fumar. O cigarro está acabando com meu desempenho sexual!”
_ Mas você não fuma!
_ Eu disse que meu caso é mais complicado...
Lembro de uma ocasião em que uma antiga namorada quis me fazer um elogio. Ela disse que meu pênis era “ideal”. Meio transtornado, quis entender sua observação e ela disse: “Ele não é exagerado, tem o tamanho certo, é agradável aos olhos. Ideal.”
Esse elogio me pareceu mais uma provocação e não dava pra ficar calado. Durante o jantar, ela me perguntou o que eu achei do capeletti aos quatro queijos que ela preparou (sua especialidade).
_ Achei ideal.
_ Ideal?!
_ É... Não está exagerado.
_ Como é que é?!
_ O prato tem o tamanho certo.
_ Escuta aqui...
_ É agradável aos olhos. Ideal.
_ Ai, seu cavalo!!!
O namoro não durou muito depois disso, mas até hoje lembro com orgulho e satisfação de nossa última briga:
“Ai, seu cavalo!!!”
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
O Código de Vênus
Poucas coisas neste mundo me assombram tanto quanto o “nada feminino”. Não é de hoje que sabemos que quando uma mulher afirma que nada está acontecendo há algum evento de proporções apocalípticas por vir. Quando uma mulher gritar “Nada!Nada!”, a melhor coisa é nadar mesmo, pois aí vem um tsunami.
Na tentativa de desvendar os mistérios que há por trás deste código de Vênus, criptógrafos renomados e cientistas de várias áreas se uniram e desenvolveram métodos revolucionários de tradução. Para que os mesmos não fossem acusados de machistas, as experiências foram feitas com ratinhos de laboratório. No início, não foi percebido qualquer resultado conclusivo, mas, depois de injetarem hormônio feminino nos pequenos roedores albinos, os testes foram reveladores:
Nada = Tudo!
Nada + cara séria = Adivinhe!
Nada + cara de raiva = Você sabe muito bem! Deixa de ser cínico!”
Nada + suor na testa = Eu estourei o limite do cartão de crédito de novo...
Nada + lágrimas = Eu assisti Titanic pela enésima vez...
Nada + sorriso = Estou grávida!
Nada, querido = Nossa filha está grávida.
Nada, amor = Estou te traindo.
Nada, amorzinho = Estou te traindo com seu melhor amigo.
Nada, amorzão = Estou te traindo com seu pai.
Nadinha = Minha mãe vai passar o final de semana aqui em casa.
Nada de mais... = Aquele arranhão que dei em seu carro deu perda total...
Custou quase nada = Foi parcelado a perder de vista.
Nada, por quê? = Eu planejei tudo tão bem, como você descobriu?
Nada + biquinho = Briguei com meu namorado.
Nada + cuspe no chão = Briguei com minha namorada.
Nadaaaaaaaaaaaaa!!! = Não lembro onde guardei meu Prozac!!!
Nada + surto psicótico = Cólica mestrual.
Nada não = Indecifrável. Esse pleonasmo enfatizando a inexistência de qualquer coisa é um enigma inquebrável. Nestes casos, aconselha-se observar todos os detalhes ao redor e reagrupar as informações como um complexo quebra-cabeça. É possível que a verdade jamais seja revelada.
Aproveito a oportunidade para informar que nenhum animal foi maltratado nesta experiência. Alguns ratinhos até subiram de carreira e hoje desfilam com bolsas de griffe. As esposas dos cientistas também garantem que eles NADA sofreram.
Na tentativa de desvendar os mistérios que há por trás deste código de Vênus, criptógrafos renomados e cientistas de várias áreas se uniram e desenvolveram métodos revolucionários de tradução. Para que os mesmos não fossem acusados de machistas, as experiências foram feitas com ratinhos de laboratório. No início, não foi percebido qualquer resultado conclusivo, mas, depois de injetarem hormônio feminino nos pequenos roedores albinos, os testes foram reveladores:
Nada = Tudo!
Nada + cara séria = Adivinhe!
Nada + cara de raiva = Você sabe muito bem! Deixa de ser cínico!”
Nada + suor na testa = Eu estourei o limite do cartão de crédito de novo...
Nada + lágrimas = Eu assisti Titanic pela enésima vez...
Nada + sorriso = Estou grávida!
Nada, querido = Nossa filha está grávida.
Nada, amor = Estou te traindo.
Nada, amorzinho = Estou te traindo com seu melhor amigo.
Nada, amorzão = Estou te traindo com seu pai.
Nadinha = Minha mãe vai passar o final de semana aqui em casa.
Nada de mais... = Aquele arranhão que dei em seu carro deu perda total...
Custou quase nada = Foi parcelado a perder de vista.
Nada, por quê? = Eu planejei tudo tão bem, como você descobriu?
Nada + biquinho = Briguei com meu namorado.
Nada + cuspe no chão = Briguei com minha namorada.
Nadaaaaaaaaaaaaa!!! = Não lembro onde guardei meu Prozac!!!
Nada + surto psicótico = Cólica mestrual.
Nada não = Indecifrável. Esse pleonasmo enfatizando a inexistência de qualquer coisa é um enigma inquebrável. Nestes casos, aconselha-se observar todos os detalhes ao redor e reagrupar as informações como um complexo quebra-cabeça. É possível que a verdade jamais seja revelada.
Aproveito a oportunidade para informar que nenhum animal foi maltratado nesta experiência. Alguns ratinhos até subiram de carreira e hoje desfilam com bolsas de griffe. As esposas dos cientistas também garantem que eles NADA sofreram.
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O Grito do Guerreiro
A imaginação de uma criança é mesmo algo contagiante. Lembro de uma vez em que fui à Nova Iguaçu pagar uma conta e um menino estava parado no calçadão segurando uma espada de brinquedo. Ele parecia concentrado e indiferente às pessoas que transitavam a seu redor. De repente, ele desembainhou a espada e bradou como um poderoso guerreiro. Os braços abertos, espada em riste e o urro selvagem com direito a vento esvoaçando o cabelo e a blusa.
Dei um pulo para trás. Jurava que raios surgiriam em volta daquela figura mística e os vidros das janelas dos prédios mais próximos começariam a estilhaçar. Por sorte a mãe do menino surgiu e, puxando-o pelo braço, pôs fim àquela manifestação devastadora de poder. Estávamos salvos.
Mais tarde, na intimidade do meu quarto, minha namorada e eu acabáramos de fazer amor e ela resolveu discutir nossa relação.
_ Acho que estamos vivendo uma rotina.
_ Como assim?
_ É sempre a mesma coisa! Precisamos fazer coisas diferentes!
_ Acha que nosso lance não está sendo legal?
_ Legal é, mas... Sei lá! Acho que falta um pouco mais de imaginação!
Com esta última frase, não tive dúvidas! Saltei da cama e vasculhei minha gaveta com material de desenho e encontrei o que eu procurava: uma régua de 60cm!
_ Amor, o que pretende fazer com isso?
Não respondi. Fiz uma cara de mal e minha companheira deu um sorrisinho maroto. Ela ficou toda entusiasmada quando bati com a régua na palma de minha mão.
_ Ui! Seu safadinho...
Fiquei de pé sobre o colchão e ergui a régua, quase atingindo o ventilador de teto, como se fosse a própria excalibur. Dei o urro mais potente que meus pulmões conseguiram reproduzir e ainda simulei um terremoto sacudindo a cômoda e as cortinas.
Depois disso ela nunca mais atendeu meus telefonemas e eu até imagino o porquê.
Dei um pulo para trás. Jurava que raios surgiriam em volta daquela figura mística e os vidros das janelas dos prédios mais próximos começariam a estilhaçar. Por sorte a mãe do menino surgiu e, puxando-o pelo braço, pôs fim àquela manifestação devastadora de poder. Estávamos salvos.
Mais tarde, na intimidade do meu quarto, minha namorada e eu acabáramos de fazer amor e ela resolveu discutir nossa relação.
_ Acho que estamos vivendo uma rotina.
_ Como assim?
_ É sempre a mesma coisa! Precisamos fazer coisas diferentes!
_ Acha que nosso lance não está sendo legal?
_ Legal é, mas... Sei lá! Acho que falta um pouco mais de imaginação!
Com esta última frase, não tive dúvidas! Saltei da cama e vasculhei minha gaveta com material de desenho e encontrei o que eu procurava: uma régua de 60cm!
_ Amor, o que pretende fazer com isso?
Não respondi. Fiz uma cara de mal e minha companheira deu um sorrisinho maroto. Ela ficou toda entusiasmada quando bati com a régua na palma de minha mão.
_ Ui! Seu safadinho...
Fiquei de pé sobre o colchão e ergui a régua, quase atingindo o ventilador de teto, como se fosse a própria excalibur. Dei o urro mais potente que meus pulmões conseguiram reproduzir e ainda simulei um terremoto sacudindo a cômoda e as cortinas.
Depois disso ela nunca mais atendeu meus telefonemas e eu até imagino o porquê.
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quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O Rei e o Inseto
Há poucos dias, encontrei uma jovem amiga que chorava por conta de um problema aparentemente insolúvel. Ela estava transtornada e cheia de remorsos por acreditar ter cometido um grave erro. Sentei-me a seu lado e lhe contei a seguinte parábola:
Uma menina dormia sossegada em seu quarto quando, sentindo uma garra áspera e pontiaguda pousada em seu ombro, saltou da cama apavorada. Ela tateou a parede até encontrar o interruptor, mas, justamente naquela noite, faltou luz. A menina entrou em desespero e pôs-se a chorar diante da ameaçadora criatura que invadiu seu quarto. Ela não podia ver o monstro, mas ouvia aquele ruído demoníaco das asas draconianas que arranhavam os móveis na penumbra.
Foi quando uma luz trêmula e amarela adentrou o cômodo. A mãe da menina veio acudi-la trazendo uma vela. Como nada foi encontrado, a mãe tomou a filha carinhosamente pela mão e a levou dali para dormirem juntas.
Já de manhã, a menina voltou a seu quarto e encontrou o tenebroso intruso. Uma mariposa que havia entrado pela janela aberta. Armada com uma vassoura, a menina a expulsou sumariamente e riu de si mesma por seu poder imaginativo.
Com o final de minha narração, minha amiga perguntou: “Essa menina sou eu?”
Concordei dizendo: “Sim. A menina é você, o quarto sua consciência e a mariposa os problemas que insistem em nos tirar o sono e que, muitas vezes, são bem menores quando enxergamos com clareza. Sua mãe é alguém que te ama, que te deseja o bem. Quando alguém assim surgir em meio à escuridão, não se esconda. Permita que a luz, mesmo que de uma pequena chama, a conforte e lhe dê abrigo. Garanto que no dia seguinte, tudo parecerá mais claro.”
Minha amiga enxugou o rosto e lançou-me um sorriso de agradecimento. Antes de se despedir, quis um último conselho: “E se eu me distrair e esquecer novamente a janela aberta?”
Respondi de improviso:
“E quem disse que a janela deve ficar fechada? Uma janela aberta pode atrair uma mariposa, mas é através dela que deixamos o sol entrar. O sol é um astro-rei e a mariposa um reles inseto.”
Uma menina dormia sossegada em seu quarto quando, sentindo uma garra áspera e pontiaguda pousada em seu ombro, saltou da cama apavorada. Ela tateou a parede até encontrar o interruptor, mas, justamente naquela noite, faltou luz. A menina entrou em desespero e pôs-se a chorar diante da ameaçadora criatura que invadiu seu quarto. Ela não podia ver o monstro, mas ouvia aquele ruído demoníaco das asas draconianas que arranhavam os móveis na penumbra.
Foi quando uma luz trêmula e amarela adentrou o cômodo. A mãe da menina veio acudi-la trazendo uma vela. Como nada foi encontrado, a mãe tomou a filha carinhosamente pela mão e a levou dali para dormirem juntas.
Já de manhã, a menina voltou a seu quarto e encontrou o tenebroso intruso. Uma mariposa que havia entrado pela janela aberta. Armada com uma vassoura, a menina a expulsou sumariamente e riu de si mesma por seu poder imaginativo.
Com o final de minha narração, minha amiga perguntou: “Essa menina sou eu?”
Concordei dizendo: “Sim. A menina é você, o quarto sua consciência e a mariposa os problemas que insistem em nos tirar o sono e que, muitas vezes, são bem menores quando enxergamos com clareza. Sua mãe é alguém que te ama, que te deseja o bem. Quando alguém assim surgir em meio à escuridão, não se esconda. Permita que a luz, mesmo que de uma pequena chama, a conforte e lhe dê abrigo. Garanto que no dia seguinte, tudo parecerá mais claro.”
Minha amiga enxugou o rosto e lançou-me um sorriso de agradecimento. Antes de se despedir, quis um último conselho: “E se eu me distrair e esquecer novamente a janela aberta?”
Respondi de improviso:
“E quem disse que a janela deve ficar fechada? Uma janela aberta pode atrair uma mariposa, mas é através dela que deixamos o sol entrar. O sol é um astro-rei e a mariposa um reles inseto.”
domingo, 30 de agosto de 2009
O Dossiê Iscariotes
Esses dias, vi na televisão uma reportagem falando sobre a descoberta de textos apócrifos que, supostamente, teriam sido escritos por Judas Iscariotes, o famoso delator bíblico, e que seu conteúdo poderia até inocentá-lo de sua fama de traidor. Não seria a primeira vez que a igreja comete falhas por conta de equivocadas interpretações da sagrada escritura. Maria Magdalena foi tachada de prostituta e, apesar do próprio vaticano ter reconhecido o erro, até hoje há quem acredite na suposta profissão autônoma e alternativa da ilustre personagem de Magdala.
Se analisarmos melhor a complexidade dos fatos, vamos nos deparar com uma conspiração celestial, um audacioso estratagema onde todos faziam parte de um engenhoso plano a fim de ascender as promessas do messias que, inclusive, já havia declarado que um de seus seguidores o entregaria. Judas era uma peça importante, pois alguém teria que entregar Jesus e o desafortunado apóstolo foi o sorteado.
Mas por que é importante mantermos essa tradição de espancar um boneco no sábado de aleluia representando um alcagüete? É que toda boa história tem que ter um herói e um vilão. Judas é o antagonista da trama. É o personagem de uma parábola que nos faz crer que todo aquele que errar será punido (o que na prática sabemos ser bem diferente).
Certa ocasião, fui de carro a uma sorveteria. Um menino veio em minha direção desembestado em uma pequena bicicleta sem freios. Se eu fosse mais desatento, teria atropelado aquela criança traquina. Consegui desviar, mas o menino estatelou-se no chão tentando parar. Mesmo sem ter culpa de nada, desci do carro e fui constatar que, fora o susto e alguns arranhões superficiais, o menino estava bem. Estacionei o carro e entrei na sorveteria. Logo em seguida, entrou um rapaz dizendo ao sorveteiro que o tal menino foi atropelado, estava coberto de sangue, todo quebrado e o motorista fugiu sem prestar socorro. Fiquei surpreso com tamanha criatividade... Se em menos de cinco minutos me tornei alvo de um boato infundado, imagina o que acontece em mais de dois mil anos de história mal contada?
Ainda que o pobre dedo-duro tivesse traído seu mestre por pura ganância, deveríamos praticar as lições de Jesus: perdoar, amar ao próximo, não julgar, não condenar... Se não agimos de acordo com esses princípios, então os traidores somos nós. Como não ganhei um único centavo nesta transação obscura, dou a Iscariotes o benefício da dúvida e prometo não maltratar nenhum de seus bonecos no próximo sábado de aleluia! Quer dizer, se ninguém me oferecer 30 dinheiros.
Se analisarmos melhor a complexidade dos fatos, vamos nos deparar com uma conspiração celestial, um audacioso estratagema onde todos faziam parte de um engenhoso plano a fim de ascender as promessas do messias que, inclusive, já havia declarado que um de seus seguidores o entregaria. Judas era uma peça importante, pois alguém teria que entregar Jesus e o desafortunado apóstolo foi o sorteado.
Mas por que é importante mantermos essa tradição de espancar um boneco no sábado de aleluia representando um alcagüete? É que toda boa história tem que ter um herói e um vilão. Judas é o antagonista da trama. É o personagem de uma parábola que nos faz crer que todo aquele que errar será punido (o que na prática sabemos ser bem diferente).
Certa ocasião, fui de carro a uma sorveteria. Um menino veio em minha direção desembestado em uma pequena bicicleta sem freios. Se eu fosse mais desatento, teria atropelado aquela criança traquina. Consegui desviar, mas o menino estatelou-se no chão tentando parar. Mesmo sem ter culpa de nada, desci do carro e fui constatar que, fora o susto e alguns arranhões superficiais, o menino estava bem. Estacionei o carro e entrei na sorveteria. Logo em seguida, entrou um rapaz dizendo ao sorveteiro que o tal menino foi atropelado, estava coberto de sangue, todo quebrado e o motorista fugiu sem prestar socorro. Fiquei surpreso com tamanha criatividade... Se em menos de cinco minutos me tornei alvo de um boato infundado, imagina o que acontece em mais de dois mil anos de história mal contada?
Ainda que o pobre dedo-duro tivesse traído seu mestre por pura ganância, deveríamos praticar as lições de Jesus: perdoar, amar ao próximo, não julgar, não condenar... Se não agimos de acordo com esses princípios, então os traidores somos nós. Como não ganhei um único centavo nesta transação obscura, dou a Iscariotes o benefício da dúvida e prometo não maltratar nenhum de seus bonecos no próximo sábado de aleluia! Quer dizer, se ninguém me oferecer 30 dinheiros.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Contemplado
Certa vez, estava eu em casa curtindo meu momento de preguiça e ociosidade quando acordei com o toque do meu celular indicando o recebimento de um torpedo. No corpo da mensagem, lia-se que eu era o vencedor de um concurso e que eu deveria ligar imediatamente para o número de telefone ali indicado. Ainda sonolento, resolvi ligar, mais por curiosidade que por credo. Do outro lado da linha, uma voz masculina e animada pediu que eu me identificasse e, em seguia, disparou com todo entusiasmo:
_Parabéns! O senhor é o mais novo contemplado de nossa promoção e acaba de ganhar um automóvel total flex zero quilômetro!!
Por um momento quis acreditar em tal prenda advinda de minha sorte, mas sabia que aquilo era tremendamente suspeito, mesmo porque não me lembrava de ter me inscrito em qualquer tipo de concurso, sorteio ou rifa. Fiz várias perguntas para comprovar a veracidade de tal promoção e o animado atendente parecia preparado para tirar todas as minhas dúvidas.
Por fim, ele me garantiu que o prêmio já era meu, mas para confirmar meu interesse em receber o automóvel eu deveria comprar duzentos reais em cartões telefônicos e informar o código de cada cartão. Tratava-se, sem dúvidas, de mais um desses golpistas e, por pouco, não caio nessa.
Desliguei o aparelho e me achei na obrigação de avisar às autoridades sobre este picareta. Não seria difícil localizá-lo, afinal, eu tinha o número do telefone dele! Ele não me enganou, mas poderia continuar enganando muitas pessoas se eu não tomasse alguma atitude.
Liguei para operadoras de telefonia fixa e móvel, mas ninguém soube me dizer exatamente como eu poderia proceder uma denúncia. Me indicaram vários telefones diferentes até que liguei para polícia que me orientou a fazer um registro de ocorrência juntamente à delegacia mais próxima de minha casa. A fim de cumprir com meu dever de cidadão, fui à 39ª DP (Pavuna) onde fui recebido por um policial com cara de poucos amigos que me desencorajou em minha busca por justiça alegando que esses golpes são rotina e não há nada que se possa fazer.
_ Se ele ao menos tivesse conseguido lhe dar o golpe nós poderíamos abrir uma ocorrência – acrescentou o policial afirmando que algo só é feito quando o golpe é bem sucedido e, ainda assim, não podemos considerar uma solução.
Voltei para casa com aquele sentimento de impotência, sabendo que o tal golpista continuará agindo impunemente.
Liguei a televisão e, coincidentemente, estava passando uma reportagem sobre uma senhora muito idosa que foi vítima desse mesmo golpe. A coitadinha sacrificou o dinheiro de seus remédios para garantir seu falso prêmio. Em entrevista, o excelentíssimo secretário de segurança orientou os telespectadores:
_ Não se deixem enganar por esses exploradores! Qualquer sinal de proposta duvidosa, liguem imediatamente para a polícia, pois temos um serviço de inteligência trabalhando para punir esses golpistas! Qualquer dúvida, o telefone de meu gabinete estará sempre à disposição.
Tomei nota do tal telefone. Ocupado. Insisti por um tempo até que chamou diversas vezes. Quando eu já estava desistindo, alguém atendeu.
_É da secretaria de segurança?
_Sim, pois não?
_Estou falando com o secretário de segurança?
_O próprio. Em quê posso ajudar, cidadão?
Não me contive... Inflei o peito e bradei com toda euforia:
__Parabéns! O senhor é o mais novo contemplado de nossa promoção e acaba de ganhar um automóvel total flex zero quilômetro!!
_Parabéns! O senhor é o mais novo contemplado de nossa promoção e acaba de ganhar um automóvel total flex zero quilômetro!!
Por um momento quis acreditar em tal prenda advinda de minha sorte, mas sabia que aquilo era tremendamente suspeito, mesmo porque não me lembrava de ter me inscrito em qualquer tipo de concurso, sorteio ou rifa. Fiz várias perguntas para comprovar a veracidade de tal promoção e o animado atendente parecia preparado para tirar todas as minhas dúvidas.
Por fim, ele me garantiu que o prêmio já era meu, mas para confirmar meu interesse em receber o automóvel eu deveria comprar duzentos reais em cartões telefônicos e informar o código de cada cartão. Tratava-se, sem dúvidas, de mais um desses golpistas e, por pouco, não caio nessa.
Desliguei o aparelho e me achei na obrigação de avisar às autoridades sobre este picareta. Não seria difícil localizá-lo, afinal, eu tinha o número do telefone dele! Ele não me enganou, mas poderia continuar enganando muitas pessoas se eu não tomasse alguma atitude.
Liguei para operadoras de telefonia fixa e móvel, mas ninguém soube me dizer exatamente como eu poderia proceder uma denúncia. Me indicaram vários telefones diferentes até que liguei para polícia que me orientou a fazer um registro de ocorrência juntamente à delegacia mais próxima de minha casa. A fim de cumprir com meu dever de cidadão, fui à 39ª DP (Pavuna) onde fui recebido por um policial com cara de poucos amigos que me desencorajou em minha busca por justiça alegando que esses golpes são rotina e não há nada que se possa fazer.
_ Se ele ao menos tivesse conseguido lhe dar o golpe nós poderíamos abrir uma ocorrência – acrescentou o policial afirmando que algo só é feito quando o golpe é bem sucedido e, ainda assim, não podemos considerar uma solução.
Voltei para casa com aquele sentimento de impotência, sabendo que o tal golpista continuará agindo impunemente.
Liguei a televisão e, coincidentemente, estava passando uma reportagem sobre uma senhora muito idosa que foi vítima desse mesmo golpe. A coitadinha sacrificou o dinheiro de seus remédios para garantir seu falso prêmio. Em entrevista, o excelentíssimo secretário de segurança orientou os telespectadores:
_ Não se deixem enganar por esses exploradores! Qualquer sinal de proposta duvidosa, liguem imediatamente para a polícia, pois temos um serviço de inteligência trabalhando para punir esses golpistas! Qualquer dúvida, o telefone de meu gabinete estará sempre à disposição.
Tomei nota do tal telefone. Ocupado. Insisti por um tempo até que chamou diversas vezes. Quando eu já estava desistindo, alguém atendeu.
_É da secretaria de segurança?
_Sim, pois não?
_Estou falando com o secretário de segurança?
_O próprio. Em quê posso ajudar, cidadão?
Não me contive... Inflei o peito e bradei com toda euforia:
__Parabéns! O senhor é o mais novo contemplado de nossa promoção e acaba de ganhar um automóvel total flex zero quilômetro!!
quarta-feira, 29 de julho de 2009
A Árvore do Demônio
De longe, aquela velha árvore é apenas um rabisco tétrico em meio a uma paisagem agreste, árida e deserta. Um botânico experiente encontraria dificuldade para catalogar um espécime tão grotesco e desfigurado. Centenas de galhos secos espalhados em múltiplas direções como os dedos de uma velha bruxa. Suas raízes são como gigantescas serpentes petrificadas e seu tronco robusto parecia possuir a idade do mundo.
Sua aparência expressionista lhe rendeu o título de “a árvore do demônio” e a ela foram atribuídas várias histórias sombrias. Os mais velhos contam que, à sombra desta árvore, o próprio demônio – ou algum espírito fanfarrão – passava os dias descansando e esperando que algum viajante cruzasse seu caminho. A abordagem era sempre a mesma:
“Permita que eu me apresente. Eu sou o anjo caído, o pai da mentira. Possuo muitos nomes, mas permitirei que escolhas como devo ser chamado. Desejo chegar até o fim desta estrada, mas a viagem é muito longa. Importa-se se eu acompanhá-lo?”
A reação era quase sempre a mesma. Os passantes gritavam “Fora satanás! Vá embora tinhoso! Suma da minha frente coisa ruim!” enquanto corriam desesperadamente tropeçando nas próprias pernas. O demônio se divertia com todo aquele alvoroço e sorria com a certeza de que ele encontraria todas essas pessoas no final dessa longa estrada.
Entretanto, houve um transeunte que, ao ser abordado, não esboçou qualquer reação de pânico. Ele olhou para o demônio e disse: “Ora, não vejo problema nenhum. Pode me acompanhar, se quiser.”
O demônio estranhou a frieza do viajante: “Talvez eu não tenha sido claro... Não compreende quem sou?”
O viajante balançou a cabeça positivamente e acrescentou: “A viagem é realmente longa, alguém para conversar encurtará a distância.”
E o demônio quis saber: “E como você pretende me chamar durante esta jornada?”
Em resposta, o viajante disse: “Se devo te chamar por algum nome, que seja o nome que você escolher. Esta árvore não possui nome, mas cumpri com seu dever de projetar a sombra que você descansa. Nomes não dizem nada, o que importa é o que fazemos para ajudar quem está do nosso lado. Diga-me como deseja que eu o chame.”
Desconcertado, o demônio refletiu por um instante de cabeça baixa: “Estou acostumado aos nomes que me são disparados aos gritos. Acho que seguimos caminhos opostos.”
O demônio permaneceu em silêncio, admirando a figura do rapaz diminuir ao longe até sumir no horizonte. Lamentou-se por não ter perguntado o nome daquele viajante, pois sabia que nunca mais voltaria a vê-lo.
De longe, aquela velha árvore passou a dar sinais de vida àquela velha paisagem agreste, árida e deserta.
Sua aparência expressionista lhe rendeu o título de “a árvore do demônio” e a ela foram atribuídas várias histórias sombrias. Os mais velhos contam que, à sombra desta árvore, o próprio demônio – ou algum espírito fanfarrão – passava os dias descansando e esperando que algum viajante cruzasse seu caminho. A abordagem era sempre a mesma:
“Permita que eu me apresente. Eu sou o anjo caído, o pai da mentira. Possuo muitos nomes, mas permitirei que escolhas como devo ser chamado. Desejo chegar até o fim desta estrada, mas a viagem é muito longa. Importa-se se eu acompanhá-lo?”
A reação era quase sempre a mesma. Os passantes gritavam “Fora satanás! Vá embora tinhoso! Suma da minha frente coisa ruim!” enquanto corriam desesperadamente tropeçando nas próprias pernas. O demônio se divertia com todo aquele alvoroço e sorria com a certeza de que ele encontraria todas essas pessoas no final dessa longa estrada.
Entretanto, houve um transeunte que, ao ser abordado, não esboçou qualquer reação de pânico. Ele olhou para o demônio e disse: “Ora, não vejo problema nenhum. Pode me acompanhar, se quiser.”
O demônio estranhou a frieza do viajante: “Talvez eu não tenha sido claro... Não compreende quem sou?”
O viajante balançou a cabeça positivamente e acrescentou: “A viagem é realmente longa, alguém para conversar encurtará a distância.”
E o demônio quis saber: “E como você pretende me chamar durante esta jornada?”
Em resposta, o viajante disse: “Se devo te chamar por algum nome, que seja o nome que você escolher. Esta árvore não possui nome, mas cumpri com seu dever de projetar a sombra que você descansa. Nomes não dizem nada, o que importa é o que fazemos para ajudar quem está do nosso lado. Diga-me como deseja que eu o chame.”
Desconcertado, o demônio refletiu por um instante de cabeça baixa: “Estou acostumado aos nomes que me são disparados aos gritos. Acho que seguimos caminhos opostos.”
O demônio permaneceu em silêncio, admirando a figura do rapaz diminuir ao longe até sumir no horizonte. Lamentou-se por não ter perguntado o nome daquele viajante, pois sabia que nunca mais voltaria a vê-lo.
De longe, aquela velha árvore passou a dar sinais de vida àquela velha paisagem agreste, árida e deserta.
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