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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Despertar

A vida é uma coleção de despedidas. Nos despedimos do útero e do leite materno. Damos adeus às fraudas e às roupas que já não nos cabem. Adeus à inocência, aos colegas da escola, aos amigos, aos amores, aos parentes... Estamos sempre nos despedindo e, mesmo assim, nunca nos acostumamos a isso. Sempre lamentamos as despedidas, mesmo daquilo que nos fere. Quem consegue se despedir de suas angústias sem um aperto no peito? Há quem reconheça seus problemas e procura deixar sempre para depois a solução só para manter por perto aquilo que lhe tira o sono. A idéia de morte varia de acordo com a cultura local. Para uns, tormento, drama, saudade... Para outros, transição, alegria, renovação.
Em muitas ocasiões, nos pegamos em busca de um esclarecimento. Uma revelação que nos explique tudo o que passamos, que nos indique o caminho. Quisera a vida ser simples assim. Todos nasceríamos com um guia, um manual de instruções. Por mais que queiramos uma resposta, nem sempre estamos realmente interessados a segui-la. Muitas vezes até sabemos qual caminho que devemos escolher, mas é mais conveniente e menos assustador permanecermos parados no mesmo lugar e implorar por uma luz que, de tão intensa, já nos cegou as vistas.
Queremos respostas, e o erro começa aí. O que devemos desejar não é uma voz que nos mostre a direção. O que devemos buscar é um despertar.
O despertar é sempre mais difícil, pois uma vez que acordamos do transe, não podemos simplesmente fugir da realidade e retornar ao nosso mundo de sonhos ensaiados. Despertar nos faz mergulhar em nossas dúvidas mais honestas e nos afasta de nossas certezas dissimuladas.
É quando despertamos que reconhecemos o valor de cada momento, pois aprendemos que tudo passa. Tanto a dor quanto a delícia se vão para dar lugar a novos eventos dos quais nos despediremos um dia.
Certos eventos (pessoas, momentos, coisas) passam em nossas vidas como um cometa. Um fenômeno raro de extrema beleza e encanto. Um brilho intenso que cruza nosso espaço aéreo deixando um rastro de fascínio e assombro. Ainda assim, sabemos que tudo isso também passará, e nem por isso deixa de ser perfeito.
Ao despertar, compreendemos que cada despedida equivale a um recomeço e o que fica vivo em nossa memória é aquilo que merece ser celebrado com entusiasmo.
Não nos deixemos abater por cometas que se vão, pois, sabemos no fundo de nosso coração que sempre podemos contar com as estrelas.

3 comentários:

Fernanda disse...

... Acho que entrei em uma fase assim... mas não tenho certeza e sequer sei as consequências...
(Consequências de despedida, com certeza é renovação, espaço para o novo... a questão é: será que quero o novo?)

Saudades de vc seu pilantra... ainda lembro do tal livro q vc disse q me emprestaria! rs e ainda quero saber pq disse q lembro a Mandy!!! rs

=**

Anônimo disse...

Muito interessante você postar este texto justamente agora, Cliver; acredite: ele me serviu como um verdadeiro despertar...
Identifiquei-me bastante com o texto.
Um abraço,
Jefferson.

Amanda Herdt disse...

Querido,
É um prazer ler seus textos. Eles completam meus dias, acrescenta minha visão sobre as coisas. Meu coração vibra a cada texto novo, desperta !
O despertar é sinônimo de renovo, muita das vezes cruel, ambíguo, a priore eniguimático, mas com o tempo, se define. Nos faz megulhar em uma outra dimensão, abre caminhos, mas também fecha becos sem saída.

Bisours,

Amanda Herdt