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sexta-feira, 26 de março de 2010

Monólogo Ménage à Trois

Acho que todo homem tem o desejo de viver uma relação a três. Eu sonho em fugir disso. De um lado, a solidão. Do outro, a saudade. Na última ponta estou eu, completando esse triângulo amoroso. Lembro que conheci a solidão ainda bem jovem. Eu estava em uma festa de aniversário e, enquanto as outras crianças se divertiam, eu me isolava em um canto qualquer sem o menor interesse em interagir com os demais. “A pior solidão é aquela que nos humilha quando estamos acompanhados”, pude ouvi-la sussurrando em meu ouvido. Imediatamente, percebi que seríamos bons amigos.
Em algumas ocasiões, a solidão se distraía e, em uma dessas oportunidades, acabei flertando com a paixão e fui cúmplice do amor, mas tornou-se difícil conciliá-los à minha rotina, daí acabei me afastando... Foi aí que conheci a saudade.
Já em seu primeiro contato minha solidão e minha saudade se identificaram e em pouco tempo se tornaram amigas íntimas. Ora trocavam confidências, elogios, carinhos, sorrisos... Nem sei de quem partiu a iniciativa do primeiro beijo, mas muitos vieram depois deste e cada vez mais ardentes. Hoje, serpenteiam seus corpos como amantes vorazes e insaciáveis. Apesar de estranhamente excitado com essa relação, nunca fui convidado para participar daquele jogo tórrido, limitando-me ao papel de voyer. Dividíamos a mesma cama, mas nunca os mesmos prazeres. Não raras vezes acordei ao lado das duas embaladas em seus movimentos eróticos ruidosos. Às vezes me levanto e as contemplo como quem assiste a um filme de Stanley Kubrick ou David Lynch. Outras vezes as ignoro e finjo dormir um sono impossível.
Tomado por um sentimento que desconheço, me afasto uma vez mais. Procuro alívio em um livro, um gole de vinho ou qualquer outra coisa que cale os gemidos daquele romance. Em certo momento, projeto meus pensamentos para o futuro. Um futuro diferente, onde minha solidão e minha saudade não passam de reles lembranças de um passado cada vez mais esquecido. Me imagino realizado e feliz ao lado daquela que será minha companheira e até consigo visualizá-la, senti-la, desejá-la... Respiro fundo e decido que esta é minha meta, meu destino. Já é hora de traçar um novo plano em minha vida.
De volta ao quarto (e à realidade), me deparo com as duas amantes exaustas adormecidas e confortavelmente entrelaçadas. Minhas convicções fraquejam. Não sei ao certo se abandoná-las compromete um voto de fidelidade jamais assumido entre mim e minhas hóspedes. Deito silenciosamente para não acordá-las. Ensaio um sorriso que não vem e reflito se a felicidade que almejo é de fato um plano que quero pôr em prática ou são apenas simulacros momentâneas de uma alegria platônica. À vezes me pergunto se minha esperança não passa de mero subterfúgio... Algum tipo romântico e patético de masturbação.

3 comentários:

Fernanda disse...

Caramba Cliver, tudo de bom esse texto, hj que eu tô puta e depressiva quase choro com algo assim. rs
Muito bom mesmo.
Parabéns!

=)
=**

Anônimo disse...

Cliver, como sempre, excelente texto!
Você expõe os sentimentos mais complexos de uma maneira tão acessível de entender... ^^
Parabéns pela postagem!
Um abraço,
Jefferson.

Unknown disse...

Parabens = ) ... bjs