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terça-feira, 16 de março de 2010

Beleza Visceral

O mundo vem se tornando cada vez mais intolerante com quem não se enquadra aos patrões de beleza estabelecidos pela mídia. Sendo esta imposição cruel e sem limites, pego-me pensando qual será a próxima imagem cobiçada que devemos seguir para ser aceito neste universo mutável. A estética, mais que um produto é um império que admite meios cada vez mais severos para tornar-se socialmente aceitável. Um retoque no nariz, uma empinada na bunda, uma turbinada nos seios... Nada disso basta se não tivermos uma meta, uma razão para nos entregarmos aos milagres de um bisturi, dietas e exercícios diários.
Claro que tudo isso pode ser muito saudável, mas qual será o próximo objetivo? Os padrões de beleza mudam constantemente e tudo que almejamos é o inalcançável. O que desejamos ser jamais estará diante de nossos espelhos. O que desejamos ser está exposto em outdoors, comerciais de TV, capas de revistas... O objetivo maior da indústria da moda é nos convencer que não somos felizes com o que somos ou o que temos. Consuma cada vez mais. Transforme-se cada vez mais. Pense cada vez menos.
Não existe espaço para sentimentos, o que importa é a aparência. Tabelas, cálculos matemáticos, índices e escalas guiarão seus passos como um oráculo. O resultado de sua circunferência corporal determinará seu lugar neste mundo (não há lugar para quem aja diferente). Ninguém deseja saber como você está, mas quantos gramas perdeu nos últimos dias, quantos minutos você faz na esteira, qual tipo de silicone você recomenda.
Quando a exposição “Corpo Humano Real e Fascinante” esteve em minha cidade, levei minha sobrinha que ficou encantada com todos aqueles cadáveres fatiados. Será que é este o limite pela busca incansável pela perfeição? Zumbis que circulam pelas ruas exibindo seus corpos anorexos e bulímicos conservados através de um processo de plastificação? Alguém precisa explicar a essas pessoas que “Beleza Visceral” não deve ser levada ao pé da letra, ou, em breve, encontraremos clínicas estéticas especializadas em corrigir as imperfeições de nossas vísceras. Imagine a cena: “Oi, gata! Quer ver como meu pâncreas é sarado? Já viu um esôfago mais lindo que o meu?” Pode até parecer engraçado, mas isso é real... E fascinante(?).

3 comentários:

Fernanda disse...

imagina, a humanidade inteira convertida em Barbies e Kens que andam e falam, merda mas falam! rsrs

Amanda Herdt disse...

Pois é, este é o reflexo de uma sociedade que acabou transformando o fútil em útil.
E quem entende?
Bjs!

Anônimo disse...

"O objetivo maior da indústria da moda é nos convencer que não somos felizes com o que somos ou o que temos".
É isso mesmo, Cliver.
Todo - senão, grande parte do - conceito de beleza que temos hoje é condicionado. Quando vemos o ideal de beleza feminina de alguns séculos atrás, a gente até se assusta!
Abraço.