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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Cortesia

Em uma remota estrada de uma região montanhosa, havia uma humilde edificação que funcionava como um restaurante de raros freqüentadores. O dono do estabelecimento, um senhor idoso de andar lento e poucas palavras, que trabalhava ali sozinho desde que ficou viúvo há mais de década, procurava agradar como fosse possível seus clientes. No final de cada refeição, ele servia uma xícara de chá feito de ervas aromáticas, receita de sua falecida e saudosa esposa, mas podíamos facilmente identificar a refrescância do hortelã em meio ao exótico e estimulante sabor.
Cada um reagia de uma forma diferente. Uns diziam que não gostavam de chá, ou que não pediram. Outros não falavam nada e deixavam o chá sobre a mesa. Alguns bebiam e saiam sem dizer nada, achando que poderiam ser cobrados por aquele agrado adicional.
Um dia, uma mulher de meia-idade de sorriso fácil, cansada pela longa caminhada, chegou com uma grande mochila nas costas e perguntou se poderia recarregar seu celular. O velho apontou para uma tomada próxima ao balcão. Ela plugou seu carregador e fez uma ligação pedindo um reboque para seu carro enguiçado há alguns quilômetros dali. Com a confirmação que o socorro chegaria lá em quarenta e cinco minutos, sentou-se para esperar. O dono do restaurante surgiu ao seu lado e lhe serviu uma xícara de seu chá especial. A mulher ficou encantada e agradeceu com um olhar cheio de doçura.
Quando finalmente o reboque chegou, a mulher levantou-se e perguntou quanto devia. O ancião respondeu que era cortesia da casa.
_ Como cortesia? Eu não fiz nenhuma refeição!
“Cortesia”, ele repetiu.
A mulher deu uma pausa e, olhando ao redor, captou a mensagem. Ela o abraçou, deu um beijo em seu rosto enrugado e o agradeceu. Ela entrou no reboque e se despediu com um aceno e os olhos rasos d’água, mantendo o amável sorriso. Ela entendeu que o chá era uma cortesia, não àqueles que ali comiam, mas sim a todos que entravam naquele restaurante e, mesmo que por alguns minutos, lhe faziam companhia.

3 comentários:

Fernanda disse...

Cliver, a história é ótima, só pecou em uma coisa... qdo ela fez a ligação, oi do celular? então como coloca ofone no gancho?

Cliver disse...

Muitíssimo bem observado, Fernanda. São atitudes como essa que espero de meus seguidores. A correção foi feita, obrigado! Luz e força!

Luck santiago disse...

Perfeito...