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terça-feira, 17 de março de 2009

Uma Palavra Nova

Foi necessário criar uma nova palavra para substituir o já tão obsoleto “amor”. Amor caiu em desuso, não por conta de sua estrutura ortográfica, haja vista tamanha simplicidade de escrita. Não há acentos gráficos nem sequer um “h” para nos confundir. O amor tornou-se erudito, rebuscado... Um vernáculo de quatro letras perdido em nosso dicionário arcaico.
A razão de seu sumiço se deve à dificuldade que encontramos de encaixar essa palavra em nosso dia-dia. Amor não basta para expressar tudo o que sentimos nem como queremos descrever algo que nos agrada. Amor sugere um certo comprometimento e ninguém anda disposto a se comprometer com nada e ninguém. Se dissermos: “Eu amo isso, eu amo aquilo...” pode ser compreendido como uma obsessão, um apego ou uma exagerada demonstração de carinho.
Amor causa espanto, medo, ansiedade, dúvidas. Melhor dizer que gosta, admira, quer bem... Amor tornou-se perigoso demais para ser usado indiscriminadamente. Alguém pode até se sentir ofendido se abordado com um “eu te amo” sem aviso.
Uma vez distante de uma compreensão imediata sem ambigüidades, não há mais o que fazer senão riscar o amor de nosso vocabulário.
Na busca de novas palavras, fugindo de neologismos que mais confundem que esclarecem, encontrei a resposta em um supermercado, mais precisamente em uma garrafa de suco de uva. Em seu rótulo dizia: “Faz bem ao coração”. Comecei a ler sua composição atrás da propriedade que garantisse esse bem-estar cardíaco. Agora, não tenho dúvidas. Ao menor sinal de afeto, gratidão, desejo ou qualquer outro sentimento que deixe meu coração contente, direi sem medo: “Obrigado por ser tão ‘anti-oxidante’ em minha vida”.

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