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quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Dia Que Botei a Polícia Pra Correr


Se você estiver prestes a comprar um carro novo com o dinheiro que vem economizando há anos, aconselho esperar um pouco mais, juntar mais uns trocados e comprar um blindado. Recomendo um tanque Challenger II. Pode pecar em conforto, além de ocupar muito espaço na garagem, mas é o veículo que melhor supre as necessidades do motorista moderno em uma cidade grande, onde o código de trânsito, a política de segurança e os valores sociais não são levados a sério.
Digo isso com o conhecimento de causa de quem sempre morou na mesma rua e dela tinha muito orgulho, até vê-la tomada por obstáculos de concreto e frequentada por jovens municiados de gírias chulas, mau gosto musical e um senso distorcido de patrimônio público.
Sempre há quem critique a ação da polícia, mas não me acho apto a julgar. Assim como os profissionais da área de Educação e da Saúde, os policiais são massacrados pelo poder do Estado, mau remunerados, desacreditados, além de arriscarem a vida em uma guerra onde seu efetivo está em constante desvantagem. Por conta de tudo isso, não me admira o caos social que vivemos e a dúvida em quem podemos confiar, pois os uniformes já não dão certeza do time que cada um está jogando.
Mas, voltando a falar de carro, pensem nas vantagens que um tanque pode oferecer. Você passaria por cima de qualquer barreira, um único disparo faria o trabalho de um milhão de buzinas, sem falar na mulherada que cairia matando quando você chegasse na balada desfilando com seu possante bélico. Mas, não esqueça, se for dirigir, não beba!
Se eu fosse proprietário de um tanque, evitaria algumas dores de cabeça, como na vez que minha esposa e eu estávamos próximos de casa, esperando o semáforo ficar verde, quando um outro carro bateu em minha traseira avariando o porta-malas. Fui checar os danos e qual não foi minha surpresa ao ver que o condutor distraído era um policial militar fardado. Ele disse que iria manobrar o carro para não atrapalhar o trânsito e conversarmos sobre os danos que ele causou, mas acelerou e fugiu.
Atordoado por ver um homem adulto, um representante da Lei, uma autoridade fugindo de sua responsabilidade, fiquei sem ação. Só despertei do choque quando minha mulher me sacudiu dizendo: “Tá todo mundo olhando! Faz alguma coisa!”.
E fiz. Gritei: “E não volte mais aqui, ouviu? Polícia na minha área não tem vez! Se te pego andando por aqui novamente não vai ficar bonito pra você!”
Desconsiderando os olhares ao redor, entramos no carro e fomos embora.
Estranhamente, após este evento, meus vizinhos passaram a me cumprimentar com frequência. Os jovens baderneiros deixaram de se reunir em minha calçada e até o lanterneiro que consertou meu carro se recusou a receber pelo serviço. “É por conta da casa, chefe”, disse ele. Achei tamanha generosidade desnecessária, mas aceitei de bom grado. Afinal, é um dinheiro que economizo. Quanto será que custa um tanque?   

Um comentário:

Gio Gomes disse...

Já estou economizando pra comprar o meu!