Se você estiver
prestes a comprar um carro novo com o dinheiro que vem economizando
há anos, aconselho esperar um pouco mais, juntar mais uns trocados e
comprar um blindado. Recomendo um tanque Challenger II. Pode pecar em
conforto, além de ocupar muito espaço na garagem, mas é o veículo
que melhor supre as necessidades do motorista moderno em uma cidade
grande, onde o código de trânsito, a política de segurança e os
valores sociais não são levados a sério.
Digo isso com o
conhecimento de causa de quem sempre morou na mesma rua e dela tinha
muito orgulho, até vê-la tomada por obstáculos de concreto e
frequentada por jovens municiados de gírias chulas, mau gosto
musical e um senso distorcido de patrimônio público.
Sempre há quem
critique a ação da polícia, mas não me acho apto a julgar. Assim
como os profissionais da área de Educação e da Saúde, os
policiais são massacrados pelo poder do Estado, mau remunerados,
desacreditados, além de arriscarem a vida em uma guerra onde seu
efetivo está em constante desvantagem. Por conta de tudo isso, não
me admira o caos social que vivemos e a dúvida em quem podemos
confiar, pois os uniformes já não dão certeza do time que cada um
está jogando.
Mas, voltando a falar
de carro, pensem nas vantagens que um tanque pode oferecer. Você
passaria por cima de qualquer barreira, um único disparo faria o
trabalho de um milhão de buzinas, sem falar na mulherada que cairia
matando quando você chegasse na balada desfilando com seu possante
bélico. Mas, não esqueça, se for dirigir, não beba!
Se eu fosse
proprietário de um tanque, evitaria algumas dores de cabeça, como
na vez que minha esposa e eu estávamos próximos de casa, esperando
o semáforo ficar verde, quando um outro carro bateu em minha
traseira avariando o porta-malas. Fui checar os danos e qual não foi
minha surpresa ao ver que o condutor distraído era um policial
militar fardado. Ele disse que iria manobrar o carro para não
atrapalhar o trânsito e conversarmos sobre os danos que ele causou,
mas acelerou e fugiu.
Atordoado por ver um
homem adulto, um representante da Lei, uma autoridade fugindo de sua
responsabilidade, fiquei sem ação. Só despertei do choque quando
minha mulher me sacudiu dizendo: “Tá todo mundo olhando! Faz
alguma coisa!”.
E fiz. Gritei: “E não
volte mais aqui, ouviu? Polícia na minha área não tem vez! Se te
pego andando por aqui novamente não vai ficar bonito pra você!”
Desconsiderando os
olhares ao redor, entramos no carro e fomos embora.
Estranhamente, após
este evento, meus vizinhos passaram a me cumprimentar com frequência.
Os jovens baderneiros deixaram de se reunir em minha calçada e até
o lanterneiro que consertou meu carro se recusou a receber pelo
serviço. “É por conta da casa, chefe”, disse ele. Achei tamanha
generosidade desnecessária, mas aceitei de bom grado. Afinal, é um
dinheiro que economizo. Quanto será que custa um tanque?
Um comentário:
Já estou economizando pra comprar o meu!
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