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quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Bom e Velho Clichê

Meu encanto pelo cinema já andava comprometido há tempos graças ao advento de uma nova tecnologia inserida nas salas de exibição: o celular. Apesar dos inúmeros avisos de que os aparelhos devem ser desligados durante a sessão, o público parece estar convencido de que ringtones podem ser perfeitamente diegéticos com a narrativa fílmica.
Em uma dessas lamentáveis situações, estávamos minha namorada e eu assistindo uma película hollywoodiana quando na tensa cena de perseguição começa a tocar “Rebolation” do grupo Parangolé. O cidadão há duas fileiras atrás de nós atende o celular explicando que não poderia falar agora, pois estava no cinema. Segundos depois o mesmo toque volta a fazer parte da trilha sonora do filme, desta vez por mais tempo, como se o rapaz se recusasse a atender. Por fim, atendeu e se colocou a discutir em alto e bom tom. Acompanhando o andamento daquela inconveniente conversa, deu pra sacar que era a mulher dele do outro lado da linha. Apesar dos retumbantes protestos por parte dos cinéfilos presentes, tal interrupção se deu mais quatro vezes ao longo do filme. A essa altura eu só pensava em comprar o DVD pirata para conseguir assistir o filme no conforto e silêncio do meu lar.
Já do lado de fora, decidimos comer uma pizza e lá estavam o rapaz do celular e a mulher que concluímos ser a esposa dele. A discussão continuou ali, desta vez frente a frente.
“Por que as pessoas se colocam num papel tão ridículo como este?”, perguntou minha companheira, indignada com a boçalidade daquele casal.
“Bom, - disse em resposta – acho que as pessoas complicam demais. Viver é um roteiro simples e repetitivo, basta respeitar certas regras. O que consideramos ridículo acaba caindo no senso comum.”
_ Como celular no cinema e briga de casal em público.
_ Ou ouvir “Rebolation”!
_ Hehehe! Espero nunca chegarmos a esse ponto.
_ O segredo da felicidade é o clichê.
_Como assim?
_ Este filme que acabamos de assistir, por exemplo. O roteiro é o mesmo de centenas de outros filmes! Conflito, perseguição, resgate... Todos os elementos da narrativa clássica e seus arquétipos. Há uma razão para o clichê ter se tornado clichê: Repita quantas vezes quiser, sempre funciona!
_ E o que isto tem a ver conosco?
_ Esse casal discutindo... Aposto que eles discutem sempre e sempre pelos mesmos motivos. Não chegam a lugar nenhum e apenas complicam ainda mais a relação. Para evitar isso, bastava encerrar a briga com um “ah, deixa disso e me dá um beijo!” ou “Eu só sei que eu estava morrendo de saudades de você...”
_ Que canalhice!
_ Canalhice não! É só o bom e velho clichê!
_ Não sei se concordo... Pra mim isso não resolve nada!
_ Mas se não vai resolver de todo modo, melhor encerrar a discussão de uma forma bem humorada e funcional! Já escolheu a pizza?
_ Prefiro que você escolha.
_ Tanto faz, você decide.
_ Nada disso! Você sabe que eu fico super indecisa com tantas opções! Você sempre me faz decidir no final!
_ Será que você não entende que eu faço isso por me importar com sua opinião?
_ Entendo muito bem! Quem parece não entender direito as coisas aqui é você!
_ Caramba! Do que você está falando?
_ Acho que você nunca vai entender...
_ Não estou realmente entendendo mais nada! Como começou essa discussão boba? Dá pra ser mais clara e me dizer o que eu não entendo?
_ Você nunca entenderá... O quanto te amo!
_ ...Hunf... (tento disfarçar o sorriso) Canastrona...
_ Eu aprendo rápido!
_ Quatro queijos.

Um comentário:

Glaucia Lamblet disse...

É...eu aprendo rápido!!! kkk
Adorei!!!
Beijos