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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Certas Coisas São Insubstituíveis...

_ Já posso tirar a venda?
_ Calma, já estamos chegando!
Adilson nunca foi um cara de farra. Caseiro, reservado, tímido... Dizem que foi a Heleninha quem tomou a iniciativa do namoro. Se conheceram nos tempos de escola e, depois de muito planejamento, finalmente estavam de casamento marcado. Claro que seus melhores amigos tinham que preparar uma despedida de solteiro memorável, então Moacyr, Anselmo, Ubiratan, Humberto, Clauderval e eu o levamos para um meretrício conhecido na área como “Caverna do Dragão”. Só pelo nome é possível imaginar o tipo de mulher que trabalha lá. Dessas que fazem “compreta” por 30 “real”. Ninguém da turma (que eu saiba) freqüentava tal estabelecimento, mas achamos o cenário muito apropriado para a despedida de solteiro de nosso amigo.
_ Agora sim, pode tirar a venda!
_ Vocês me trouxeram para um inferninho...
Havia um tom de espanto e encantamento na voz de Adilson. Não demoramos a nos acomodar e curtir o ambiente, ora beliscando as nádegas das “primas”, ora bebericando uma cerveja de quinta categoria.
_ Meninas! _ anunciou Clauderval _ Hoje é a despedida de solteiro de nosso amigo! Queremos tratamento VIP!!
A mulherada nos rodeou no ato, cobrindo-nos de toda atenção. Adilson sequer piscava. Convencemos a mais assanhadinha a fazer uma dança sensual para nosso amigo. Ela mostrou todo seu molejo ao som de Dicró. Sugeri a brincadeira da tequila, mas, na falta da mesma, usamos conhaque de alcatrão. Adilson tomava uma dose e depois lambia o sal que jogávamos em partes estratégicas do corpo de alguma menina e depois chupava o limão que sabe-se lá Deus de onde saiu.
Faltava pouco para amanhecer o dia quando Humberto sacudiu Adilson dizendo: “Aproveita bem, pois é só esta noite! Daqui a uma semana vai estar casado e não terá nunca mais uma noite como essa!”
Adilson deixou de lado a mulata “Tiamat” que o judiava com seus volumosos seios de enormes auréolas negras e mamilos salientes. Parecia um momento de iluminação. Uma epifania.
“E quem disse que esta noite precisa acabar?” Todos acharam graça quando Adilson disse essas palavras.
_ Vamos nessa, cachorrão! _ disse Ubiratan _ Temos que te entregar inteiro para dona Heleninha!
_ Não! _ protestou Adilson _ Se vocês quiserem ir, tudo bem, mas eu vou ficar!
_ Está louco, Adilson? _ Moacyr já meio preocupado _ Acha que isso aqui é de graça? Vai ficar aqui até quando?
_ Eu tenho muito dinheiro guardado! Economizei a vida toda para casar! Eu não fazia idéia do que estava perdendo! Os prazeres que a solteirice oferece! Avisem a Heleninha que sinto muito, mas não voltarei para casa! Meu lugar é aqui!
Apesar de nossos protestos, não fomos convincentes com nossos argumentos e achamos melhor irmos embora antes que Adilson nos convencesse a ficarmos também. Saímos da Caverna do Dragão deixando “Uni” para trás (se bem que hoje desconfio que era o próprio “Mestre dos Magos”).
Quatro anos se passaram e Helinha ainda não fala conosco. Clauderval casou-se, mas não quis saber de despedida de solteiro. Moacyr mudou-se para a roça. Anselmo entrou pra igreja. Humberto e Ubiratan se assumiram homossexuais e moram juntos. Eu comprei uma moto, escrevo blogs e continuo solteiro. Dizem que Adilson é o novo proprietário do famigerado meretrício, mas nunca voltei lá pra confirmar.
Às vezes lembro daquela noite com um certo arrependimento... Nunca deveríamos ter substituído tequila por conhaque de alcatrão.