Leitores

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Intolerável

O recém-casado jacaré voltava para casa depois de um dia de muito trabalho no Pantanal. Assim que chegou, sua esposa anuncia o cardápio da noite.


_ Olá, querido! Hoje preparei para você minha especialidade: sapo ao molho madeira!

_ Nossa, amor... Bacana, mas lembra que eu te disse que eu não como sapo?

_ Ora, deixe disso! Todo jacaré que se preze come sapo!

_ Mas me dá uma tremenda má digestão! Fico todo me coçando sem falar nos gases!

_ Deixe de ser resmungão! Preparei com todo carinho! O segredo é não mastigar! Abra essa bocarra e engula inteiro.

Para evitar confusão, o senhor jacaré resolveu, a contragosto, aceitar a iguaria.

Toda satisfeita e convencida de estar agradando seu marido, a dona jacaré passou a preparar sapo todas as noites. Como bom esposo, o jacaré fazia este sacrifício sem reclamar, devorando seu jantar sem mastigar e sem fazer cara feia.

Com o tempo, o simples coaxar de uma reles perereca fazia o estômago do jacaré dar reviravoltas. Não dava para manter por mais tempo esta dieta anfíbia. À noite, quando sua mulher o servia com mais um sapo rechonchudo, o jacaré protestou:

_ Sinto muito mais não dá mais para mim!

_ Como assim? Achei que você já estivesse gostando!

_ Eu odeio! Não suporto mais sentir o cheiro de sapo! Me dá engulho!

_ Como você tem coragem de criticar assim a comida que faço para você? Você é um ingrato! Um grosso!

_ Agora quer que eu me sinta culpado por não tolerar sapo?

_ Você não tolera nada! Bem que minha mãe avisou! Não sabe apreciar as coisas boas que faço por você! Se quiser comer pode se virar por aí, pois eu é que não perco mais meu tempo te paparicando seu, seu... Seu crocodilo!!

Ela pegou pesado. Xingá-lo de intolerante é uma coisa, mas crocodilo é humilhação demais. A fim de não prolongar aquela discussão, o jacaré resolveu sair para espairecer e encontrar algo para jantar. Atraído por um belo pedaço de carne fresca, caiu em uma armadilha. Os caçadores o mataram e arrancaram seu couro para ser vendido a uma confecção especializada em carteiras, pastas e bolsas de viagem.

Pobre jacaré. Ele aprendeu da pior maneira que no casamento é assim: Ou você aprende a engolir sapo ou você acaba virando um “mala”.